por hoje, palavreio...




Sou uma vastidão de palavras ditas, escritas e caladas.  Elas passeiam dentro de mim como caminhos que me levam a muitos lugares ou a lugar nenhum. Podem ser corte, dor, manifesto, resistência, resiliência, cura, praga, afago, afeto, anexo, gesto, justa, justaposta, verdade, mentira, mania, sempre inteiras, nunca meias...
Palavras podem ser de comer, de beber, de ouvir, de sentir e cheirar, de tocar, de refutar, de acolher.
Raros são os dias em que as palavras tomam rumo certo e fluem feito rio manso que sabe muito bem o caminho do mar. Nessas raras ocasiões me deleito com as palavras, rolo com elas como fossem amantes que sabe bem o que desejo, me entrego mergulhada no prazer de saber o que dizer, o que pensar, o que escrever, o que calar.
Por vezes as palavras se amontoam em minha cabeça fazendo pressão, como fossem montanhas de areia no deserto, que afundam os pés, ardem os olhos e mudam de lugar com vento forte. Noutras vezes as palavras escoam, escapam, fogem feito o diabo da cruz, deixando um vazio, um oco, um escuro de nada se ver.
Há tantas palavras habitando este mundo que eu sou, que hoje palavreio sem destino e sem sentido. Só palavreio, silêncio e fim.

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