aprender no encontro com o outro...


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No 1º semestre de 2016, participei das aulas de Epistemologia e Didática da FEUSP, ministradas pelo Prof. Nilson José Machado. Fiquei admirada com a coerência do professor (artigo raro em tempos atuais). Sala sempre lotada. As aulas traziam um encantamento poético, mas com pés no chão, juntando bom humor, leveza, seriedade e descobertas fundamentadas em cada palavra dita. Os encontros nos afirmavam que é possível sim, aprender com o diálogo, com a troca e manter "brilho nos olhos". Certo dia, abalou-se sobre São Paulo uma chuva imensa. O trânsito estava um caos. O professor que normalmente chegava com 1h de antecedência, não apareceu. Ninguém conseguia entrar em contato com ele. Ninguém foi embora. Nenhum aluno sequer. Todos esperamos 1h30, certos de que o professor chegaria. E chegou! Eu disse para mim mesma, é essa profissional que desejo ser. Aquela da qual ninguém desiste, porque vale a pena estar lá. Há por aí um grande desafio e pensei em Rubem Alves, que disse o que eu mesma gostaria de dizer nesse instante, "Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos".
A cada dia que passa, fico mais convencida de que a generosidade é um outro artigo raro e que pertence às pessoas de almas grandiosas. Observo que os que inflam o peito enumerando as próprias qualidades, vivem em uma bolha impenetrável, não permitindo que outros aproximem-se. São pessoas que parecem saber muito, mas desconfio que no fundo, sofrem de uma grande insegurança. Ao contrário, pessoas de grandes saberes demonstram isso não em palavras, mas em atitudes, em escutas, em olhares. Nilson é dessas grandes pessoas, que a vida coloca em nossos caminhos para pensarmos o quanto ainda precisamos melhorar, mas que é possível fazer a diferença onde estamos.
 Eu, que estava mergulhada nessa possibilidade de aula como encontro, queria muito que os professores da escola onde trabalho experimentassem essas reflexões. Fui até o Nilson e compartilhando meus pensamentos, o convidei para uma roda de conversa com os docentes e com os alunos do 5º ano (ele também escreve livros para o público infantil). Nem titubeou, no mesmo instante levantamos uma data e ele veio...
As crianças não cabiam em si de felicidade por encontrar um escritor de verdade. Alguém fora das capas dos livros. Fizeram inúmeras perguntas e confessaram depois ao próprio Nilson, que tinham caprichado na roupa para esse encontro. Foi uma lindeza! Voltaram para casa com olhos brilhando e com dois livros de presente, com direito a autógrafo.
Os professores embora mais comedidos na manifestação de carinho,  me mandaram mensagens de agradecimento pela possibilidade. Entretanto a gratidão não se reserva a mim, de forma alguma, mas à grandeza do Nilson, que saiu de São Paulo para nos encontrar. Que trouxe refresco para nosso dia, lembrando-nos que aprender e ensinar são faces da mesma moeda. Que delicadamente mostrou que os grandes momento de transformação podem acontecer no encontro com o outro e que  o diálogo é uma poderosa ferramenta na construção do conhecimento.
Salve Guimarães Rosa que nos alenta, "Mire e veja: o mais importante e bonito do mundo , é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas- mas que elas estão sempre mudando". Nosso encontro ecoou em mim a afirmação de que trabalhar com pessoas é desafiador, mas é nobre e possibilita que avancemos um pouco mais na mudança de nós mesmos e do mundo onde vivemos (é claro, é preciso estar aberto ao encontro).
Nilson, sua presença foi uma dádiva, seremos sempre gratos pela sua generosidade, pela oportunidade de ouvi-lo e aprender com você! Saímos renovados do diálogo que você propôs. Lembrei-me de um poema do Manoel de Barros, que é capaz de dizer em poucas linhas  tudo isso que experimentamos:

"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. 

Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, 
que puxa válvulas, que olha o relógio, 
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis, 
que vê a uva etc. etc. 

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."

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